sábado, 27 de julho de 2013

OS FIOS BRANCOS DO TEMPO

    As horas choram através do segundos que pingam lentamente. Mas finjo não ver o próximo minuto, porque tarde fica e mais à frente já não poderei saber quanto tempo estive fingindo. Tal arte é difícil, fingir e acreditar no próprio fingimento é tão difícil. É melhor acreditar que as horas voam, sendo tudo verdade e intenso pois não sinto o tempo, não quero sentir. Sentir o tempo é coisa de velho e este tempo ainda não chegou. A hora só passa pra quem sente o pesar da hora passar. Cada qual com seus dilemas, mas existem aqueles que são de todos, inclusive os fios brancos do tempo. Há aqueles que já os têm sem a hora ter chegado, isto porque não sabem fingir.




               Senilidade

    Deixar o passado no passado para não ter de reviver tudo, inclusive o que não foi proveitoso. Não tardamos a perceber a serenidade natural da idade. Há quem diga que se começa a viver depois dos trinta, mas também há quem diga o contrário. Eis a decrepitude humana, a única espécie capaz de ver-se definhar, assistir o próprio desalento. Isto que é um verdadeiro despropósito da razão. 
    Mas, não é isso que interessa, falo-vos de fingimento. Fazer valer o tempo é não senti-lo passar ou mesmo não sofrer com sua passagem. Esta é uma ilusão a que conferimos muito crédito quando jovens. Duvido muito de quem afirme não ter vivido o mito da eterna juventude, pois se afirma é porque não viveu como deveria, sempre foi um senil de espírito. 
    Como sofre quem não se permite fingir ao menos um minuto, quer seja fingir que é forte ou quer seja fingir que é fraco, a teatralidade é um dom e a sinceridade absoluta é um disparato. Quantas vezes precisamos não sermos vistos e é justamente um fingimento que torna invisível aquilo que não queremos demonstrar, torna-nos fortes. 
    A força não vem do momento em que faltamos com a verdade, mas sim do suspiro que damos para conter o rio por trás da represa de fingimento, deixando "a dor escondida" escoar aos poucos, de uma forma que suportamos. 
    Agora lhes pergunto: por que o título foi Senilidade? 




Nenhum comentário:

Postar um comentário